Com muita honra, faço a abertura da 59ª Reunião das Imprensas Oficias Brasileiras, congregadas na ABIO – Associação Brasileira de Imprensas Oficiais, entidade fundado na sede da Imprensa Nacional em 09 de maio de 1943 no Estado do Rio de Janeiro, na época, com o objetivo maior, citado anteriormente em um dos nossos encontros em Sergipe, de formamos uma corrente de elos fortes para abraçar o interesse público.
Os que pensam de maneira diferente continuam a bradar, quando não atuam na calada. Pensar diferente? Um direito! Até salutar, posto que as unanimidades são burras. Mas pensar formas de subtrair as informações de interesse público, daqueles que tem o direito de recebê-las? Isto é quebra de princípio!
São estas tentativas de usurpar direitos, o nosso combustível. São estas tentativas que nos tornam fortes. São a soma dos séculos de experiência dos diversos diários oficiais do Brasil, que nos encorajam a levantar e continuar a luta quando perdemos uma batalha.
A 59ª Reunião da ABIO comporta em sua pauta temas de grande relevância. Decisões precisam ser tomadas visando salvaguardar nossa posição perante Projetos de Lei que modificam atribuições das Imprensas Oficiais. As providências adotadas, até então, precisam ser demonstradas aos nossos pares e experiências e ações individuais serão democraticamente compartilhadas, em áreas diversas, quer sejam jurídicas, técnicas, administrativas ou políticas. Senhoras e senhores, este é o ambiente da ABIO.
Ambiente que será emoldurado pelas belezas de Maceió das Alagoas, pelo calor humano e sorriso ímpar das alagoanas e alagoanos, pelo cheiro do mar, pelo sabor do leite de coco, dos frutos do mar e pela competência e organização dos irmãos companheiros da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, que completou 104 anos de existência, publicando a primeira edição do Diário Oficial do Estado de Alagoas em 17 de janeiro de 1912.
Senhoras e senhores, a atuação da Imprensa Oficial de Alagoas extrapola as fronteiras do estado como exemplo de Editora inclusiva. Não passam despercebido ao País os investimentos e ações que visam contemplar o acesso dos deficientes visuais à informação e à cultura. A aquisição de maquinário ultramoderno para impressão em Braille corrobora esta afirmação, assim como a disponibilização do acesso da produção editorial através do conhecido Livro Daisy, que deixarei em suspense, ativando assim a curiosidade e o espírito de pesquisa em todos os presentes.
Senhor Secretário, a revista Graciliano é esperada em todo o Brasil, com avidez, para deleite daqueles que cultivam o bom gosto, o refinamento cultural e uma linha editorial inteligente que sabe dosar passado e presente, ensinando história.
A escolha do nome do ilustre filho da terra, Graciliano Ramos, para identificar a Imprensa Oficial de Alagoas, bem como sua Revista Cultural, foi de uma felicidade inigualável. Este romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro, representante da segunda fase do nosso Modernismo, soube como ninguém, exprimir a amarga realidade do nordestino em algumas de suas obras primas. São Bernardo, Angústia e, sobretudo, Vidas Secas, lida e analisada por todo secundarista brasileiro, que saboreava o seu estilo seco, frio e impessoal, rico em senso psicológico, mas sem sentimentalismos, elevando-o ao patamar onde se encontram os grandes escritores do Brasil.
A mim, pessoalmente, me fascina o romance autobiográfico com elementos ficcionais, Memórias do Cárcere. Nesta obra, toda a violência que o autor passou enquanto esteve preso torna-se elemento para denuncia do autoritarismo estabelecido pelo Estado Novo. Considero uma das grandes contribuições para a literatura mundial, apesar de ter sido publicada depois de sua morte e sem a conclusão.
“Memórias do Cárcere” ficou sem o último capítulo, não à toa. Para mim, deixou um legado: a conclusão ficará, sempre, por conta de quem lê, no momento lido, permeado dos fatos históricos, das pressões sociais, políticas e econômicas que o leitor sentir na pele. Gênio! Filho e presente das Alagoas
Concluindo minhas palavras e agradecendo a acolhida que todos nós, brasileiros, estamos recebendo nesta terra brasileira, ouso repetir dois trechos de Memórias do Cárcere:
O primeiro:
“A exceção nos atrapalha. Temos de reformar julgamentos.”
O segundo:
“Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras, não deixar vestígio de ideias obliteradas.”
Graciliano Ramos, onde quer que esteja, ainda bem que você não conseguiu.
Muito obrigado.
LUIZ GONZAGA FRAGA DE ANDRADE
PRESIDENTE
ABIO – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSAS OFICIAIS