Tem uma aura mágica. Comemora os 50 anos de Brasília e é também festejada nessa data. Além de sua capacidade e da grandeza do seu porte (10,35 metros de comprimento por 3,83 de altura, e 56 toneladas de peso), tem memória. Tem uma dimensão humana. É octagenária. Sedutora. É imortal. Está plantada — altiva, garbosa — nos jardins da Imprensa Nacional. Crianças e adultos — que viram crianças — encarapitam-se nela e, através de um milhão de engrenagens, dão vôos à imaginação… Clic, clic! Falamos da impressora Marinoni Ministro Vicente Ráo (homenagem ao ministro da Justiça Vicente Ráo — de 1934 a 1937 —, do Governo Getúlio Vargas).
Seus serviços ao País, à cidadania, são os mais relevantes. É por isso que sua importância, seu significado, ora lembrados, vão muito além da curiosidade dos turistas e das tomadas das equipes de TV. O Nosso Jornal, com o apoio do Museuda Imprensa, decidiu investir tempo e esforços para contar sua história, pesquisando e indo atrás de vozes e olhares que colocaram as mãos e corações e mentes nas peças desse capítulo de heroísmos, que é a trajetória da Marinoni.
QUARENTA E DOIS ANOS SEM PARAR
Por que a Marinoni foi — e é — tão importante? Por que ela é um bem cultural de Brasília e do Brasil?
Eis alguns dados indeléveis. Foi essa pujante máquina que ainda no Rio imprimiu, na Imprensa Nacional, a Lei nº 3.237, de 1º de outubro de 1957. Artigo primeiro dessa lei, assinada pelo presidente Juscelino Kubitschek: Em cumprimento do artigo 4º e seu § 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias será transferida, no dia 21 de abril de 1960, a Capital da União para o novo Distrito Federal já delimitado no planalto central do País.
Diante da inquebrantável determinação de JK, a Marinoni já sabia que teria missões dessa nobreza nos próximos anos. E foi assim. No dia 21 de abril de 1960, em Brasília, ela rodou, cumprindo fielmente a vontade do Presidente da República, o Diário Oficial que oficializou, cumpriu o princípio constitucional da publicidade, ou seja deu legalidade, à nova capital do Brasil. “Publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos”, segundo Hely Lopes Meirelles).
JK confiava de sobra no Diretor-Geral da Imprensa Nacional, Britto Pereira, nos seus servidores e na Marinoni. Gostava da impressora, tanto que foi até a Imprensa Nacional para acionar o botão para rodar o Diário Oficial do dia 21 de abril de abril, que circulou no dia 22. Exatamente, um mês antes, em 21 de março de 1960, apôs sua assinatura em um exemplar-teste do Diário Oficial, rodado pela Marinoni, imediatamente após sua montagem em Brasília, em um prédio em obras, coberto ainda só com lages.
O secretário-geral do Ministério da Justiça (a quem a Imprensa Nacional era vinculada) acompanhou o teste. E levou exemplares do teste ao ministro da Justiça Armando Falcão, que os levou ao presidente JK. Entusiasmado, JK autografou esses exemplares. O Museu da Imprensa tem em seu acervo um deles. O Presidente da República fez, naquele instante, um agradecimento aos 50 primeiros servidores da Imprensa Nacional, que foram, às pressas, transferidos do Rio de Janeiro para a missão de fazer com que o órgão tivesse condições de rodar a tempo o Diário Oficial em Brasília.